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O que é o trabalho de cuidado realizado majoritariamente pelas mulheres

O termo “trabalho de cuidado” refere-se às atividades desempenhadas por pessoas, majoritariamente mulheres, que se dedicam a prestar serviços ou assistência voltados para atender às necessidades físicas, psicológicas e de cuidado de terceiros. Frequentemente envolve a atenção e o cuidado à crianças, idosos, doentes e pessoas com deficiências, além das tarefas domésticas diárias, como cozinhar, limpar, lavar e cuidar das necessidades da casa. Podendo ser ou não remunerado, o trabalho de cuidado tem sido majoritariamente exercido pelas mulheres, como se a atividade de cuidado fosse natural e inerente a condição feminina, percepção essa que culmina na não-remuneração ou na baixa remuneração desse tipo de trabalho.

Apesar dos avanços na participação das mulheres no mercado de trabalho desde a década de 1970, é relevante notar que a inserção delas no trabalho remunerado frequentemente ocorre em setores relacionados ao cuidado. Essa forma de entrada no mercado de trabalho acarreta implicações significativas nos aspectos salariais, na desvalorização das atividades, nas condições de trabalho e nos direitos associados a essas ocupações, o que perpetua a precariedade do trabalho remunerado associado às mulheres e a permanência dessas mulheres em trabalhos não remunerados.

Ainda que crucial para a sustentação e operação da sociedade, uma vez que o trabalho de cuidado é o que possibilita e viabiliza o trabalho que geralmente é considerado produtivo, permitindo que os homens se dediquem a essas atividades enquanto as mulheres cuidam das necessidades da casa e da família, o cuidado ainda é um trabalho muitas vezes não reconhecido, nem socialmente valorizado. Mesmo quando remunerados, em profissões como enfermeiras, babás, faxineiras, educadoras, cuidadoras, entre outras, as mulheres recebem salários baixos, encaram condições de trabalho precárias e ainda enfrentam jornadas duplas ao retornarem para casa.

O relatório “Tempo de Cuidar: o Trabalho de Cuidado Não Remunerado e Mal Remunerado e a Crise Global da Desigualdade” elaborado pela Oxfam, revela que o trabalho do cuidado não remunerado representa um valor estimado de US$ 10,8 trilhões por ano para a economia global. Esse montante é mais de três vezes superior ao que é estimado para toda a indústria de tecnologia do mundo. Em pesquisa idealizada por Hildete Pereira de Melo da UFF, verificou-se que as tarefas domésticas representaram o equivalente a 10%, em média, do PIB brasileiro entre os anos de 2005 a 2015.

Portanto, é esse trabalho muitas vezes invisível, sub-remunerado ou não remunerado, que possibilita a existência da economia do trabalho tal como a conhecemos hoje. Em outras palavras, temos uma economia pautada sobre a exploração do trabalho das mulheres, disfarçada sob a ideia de instinto e amor.

Todo esse cenário tem um impacto significativo na trajetória profissional e no acesso à renda das mulheres. Ao se dedicarem ao “invisível”, elas são privadas do tempo e dos recursos necessários para alcançar a independência financeira, o que resulta na perpetuação de um ciclo de exploração e de trabalhos sub-remunerados. Daí a importância de promover mudanças nas estruturas sociais e políticas públicas para alcançar uma distribuição mais equitativa das responsabilidades de cuidado, como políticas de licença-paternidade, serviços de cuidado infantil acessíveis, políticas de igualdade de gênero no trabalho – que garantam condições salariais igualitárias e oportunidades de crescimento para as mulheres e, por fim, políticas de conscientização que visem incentivar a igualdade de gênero e o compartilhamento de responsabilidades de cuidado.

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