Sexo e sexualidade ainda são um grande tabu social, e muitos pais tem vergonha, receio ou até mesmo acreditam que não devem conversar com seus filhos sobre esse assunto. O que já adianto, é um grande erro! A adolescência é justamente a fase da descoberta sexual, tanto em nível de orientação, ou seja, é nessa fase que o adolescente vai se perguntar: será que sou hétero, gay, bi ou outra orientação, quanto em nível de experimentação sexual.
E não tem como a gente falar aqui sobre sexo e sexualidade sem falar também sobre gênero. A forma como meninas e meninos são ensinados e – incentivados ou reprimidos – sobre questões sexuais é totalmente influenciada pela desigualdade de gênero. Enquanto meninos são incentivados a ter a maior quantidade de experiências sexuais possíveis e a valorizar a própria satisfação sexual, muitas vezes em detrimento da satisfação sexual da parceira, sendo, não raramente, até mesmo violentos, meninas são ensinadas que o sexo é algo impuro, errado e imoral e que deve ser evitado ao máximo, sendo associado apenas à aspectos negativos, como gravidez na adolescência, risco de doenças sexualmente transmissíveis – fazendo com que as meninas sejam muito mais responsabilizadas pelos aspectos de prevenção e contracepção que os meninos –, e ameaças de julgamentos morais ao relação a própria reputação, que a abala sua confiança e a autoestima.
Contudo, essa desigualdade entre os sexos não afeta apenas as meninas, mas também tem impactos negativos nos meninos. No que o primeiro contato com o sexual normalmente ocorre, para os meninos, através da pornografia, é dessa referência que eles passam a entender o que é e como deve ser o sexo. A pornografia apresenta uma erotização da submissão e da objetificação da mulher, naturalizando comportamentos sexuais abusivos e degradantes. Contudo, a pornografia também pressiona os homens ensinando que estes devem estar sempre prontos e disponíveis, assim como devem performar de maneira inumana, gerando também inseguranças em relação ao próprio corpo e ao órgão sexual.
Diante de tantos conflitos em relação ao sexo, em uma idade tão conturbada e desafiadora como a adolescência, é muito positivo que os pais possam ser um lugar de suporte e apoio, e não de proibições e julgamentos. Sei que pode ser muito difícil para alguns pais, principalmente em relação as filhas, pensar sobre isso, mas os adolescentes são sujeitos sexuados e eventualmente irão transar. A questão é se queremos, enquanto pais, que eles estejam bem orientados e seguros, ou se queremos que eles vivenciem uma vida sexual pautada por comportamentos disfuncionais e de risco.
Ainda que o ato sexual seja um ato que implique bastante responsabilidade, em relação à gravidez indesejada e as IST’s, sabemos bem que sexo não é só isso, mas vem carregado de várias outras questões, como pápeis de gênero, sentimento e emoções, insegurança, autoestima e por ai vai. Por isso, ao falar de sexo com seu filho(a) adolescente, não julgue, mas pelo contrário, acolha, escute e oriente. Dê abertura para que seu filho possa não só esclarecer suas dúvidas, mas também para que ele se sinta à vontade para falar sobre suas experiências e sobre como se sente.
Sexo é prazeroso, saudável e bastante relevante para a nossa qualidade de vida. Converse com seu filho(a) sobre a importância dele(a) se conhecer, se respeitar e também sentir prazer no ato sexual. Assim sobre como respeitar a vontade do parceiro e pensar não só no próprio prazer, mas também no prazer do outro, e que sobre sexo, vale tudo, desde haja consenso e consentimento de ambas as partes. Por fim, trate a questão sexual com igualdade de gênero, meninos e meninas tem igual direito a uma vida sexual saudável e satisfatória, assim como devem ter iguais responsabilidades sobre o ato sexual.
Tá muito difícil por ai? A nossa maneira de tratar o sexo com os nossos filhos reflete a própria maneira como a gente lida e vivência nossa própria sexualidade. Se você estiver com muita dificuldade de falar com seus filhos sobre esse assunto, procurar ajuda psicológica pode ser uma excelente alternativa.